16/09/2012

Queen West Art Crawl

Estava sozinha em casa em nosso novo apartamento, arrumando que nem doida a bagunça, as caixas, os livros, a louça, quando lembrei que estava acontecendo o Queen West Art Crawl aqui pertinho de casa. Peguei a bolsa e saí correndo para aproveitar o final da tarde.

O Queen West Art Crawl é uma feira de arte ao ar livre que acontece anualmente no Trinity Bellwoods Park desde 2003. O parque é uma delicinha e fica no coração da West Queen West, uma parte da cidade repleta de artistas. Minha nova casa é a 10 minutos andando de lá, o que me deixa muito feliz. Nesse parque acontecem diversas atividades ao longo do ano, incluindo um Farmers Market, que é febre por aqui.

O Art Craw é uma mistura de tendinhas de arte (esculturas, pinturas, fotografias, joias e mais um monte de coisas), traillers e barraquinhas de comida e um festival de música. Perfeito para se passar um dia inteiro.



Tentei cooptar dois ou três amigos para ir comigo na feira, pois D.Mari teve que trabalhar, mas acabei tendo que ir sozinha. Na verdade acabou sendo bem mais prazeiroso. Eu estava na pilha de conversar e comecei a parar nas barraquinhas de artistas cujos trabalhos me chamavam a atenção e a puxar papo sempre que eu notava que eles não estavam "atendendo a clientes". Foi uma experiência super bacana.

Minha primeira parada foi na barraquinha de Candace Osborne, uma moça super fofinha que eu e D.Mari havíamos conhecido no ano passado, na mesma feira. Daquela vez o trabalho dela nos havia chamado a atenção por nos lembrar da série Rabbits, do David Lynch. Ela lembrava não exatamente de mim, mas da sugestão do filme e contou que adorou assistir a Rabbits.


Conversamos rapidamente e perguntei a ela de onde vinham essas cabecas de animais e ela me explicou que associava cada animal a uma personalidade e que gostava de brincar com as interações entre os personagens que criava.

Andando mais um pouco notei uma barraquinha cheia de robozinhos fofos. Tenho uma certa tara por robôs e monstros e não resisti a dar uma paradinha para conversar com o moço simpático sentado num cantinho.

Andrew Duff se sentia preso à uma realidade imutável em seu trabalho. Como se fosse parte da engrenagem de uma grande fábrica. Começou a desenhar robôs agressivos e, depois de muito desenhá-los, começou a usá-los para sonhar com uma libertação.



O hobbie acabou tomando uma dimenção muito maior do que a esperada e, embora ele não tenha largado o emprego, conseguiu chegar a melhores termos com ele e hoje se sente mais feliz.

Em seguida notei uns desenhos bem interessantes de coffe shops de Toronto. Os coffe shops estão para Toronto como os bares pé sujo estão para o Rio. Com a diferença de que eles não estão fechando e se transformando em outra coisa. Como eu mesma trabalhei em uma uma cafeteria, infelzimente de rede, os desenhos logo me chamaram a atenção.



Assim que tive uma oportunidade puxei papo com o artista, que estava cercado de gente o tempo todo.

Will Wong me contou que não aguentava mais seu "day job" e um dia resolveu pedir demissão. Sem dinheiro e morando num apartamento super frio passava as tardes em cafés da cidade, desenhando os cenários que via para passar o tempo. Quando juntou 30 daqueles desenhos decidiu que podia fazer uma exposição daquilo como uma "série"e desenhou outros 100 cafés. Como resultado ele tem um retrato muito bom da personalidade da cidade e uma imensa aversão a cafés. Me contou que lembra de tudo que acontecia à sua volta enquanto desenhava. Me contou algumas histórias. E me disse que só o cheiro do café o lembrava desse momento difícil da vida e por isso evitava passar sequer perto. Rimos um pouco e fui explorar mais da feira.

Andando mais um pouco notei uma placa que dizia "artista eclética" e logo entrei na barraquinha. Encontrei-a cheia de bordados, colchas de retalhos, vidros decorados e jóias. No balcão, uma moça super simpática me encarava. Puxei papo.



Katie McLellan era webmaster. Passava a maior parte de seu dia num escritório fingindo estar ocupada, porque seu trabalho não demandava muito dela. Depois de pagar pelos estudos, vendeu tudo e passou um ano viajando. Na volta resolveu que iria trabalhar com roupas e pdiu para a mãe ensina-la a costurar. A mãe disse que, antes de aprender a fazer roupas ela deveria aprender a fazer painéis simples de tecidos, o que ela achou que seria "boring". Mas depois de fazer dois ou três se apaixonou e a partir daí expandiu os conhecimentos e agora faz todo tipo de coisa e vive de arte. Quando eu disse "você está vivendo o sonho"ela sorriu e concordou. Disse que espera que dure.

Andando mais um pouco tive que parar em ernte de umas imagens de paraquedas que me chamaram imediatamente a atenção. A conversa com a artista foi breve, pois muita gente parava ali para conversar e comprar e eu não queria ficar no caminho.

Allyson Payne usa cera de vela em seus quadros. As texturas são incríveis e fiquei muito feliz com ela me deixar tocá-los. A série Parachutes me deixou emocionada. Ela me falou que pensava neles como escapes, mas também em como as perspectivas mudam quando estamos distantes e quando nos aproximamos de novas realidade.




Minha última parada foi no estande de Julia Hepburn. Eu tinha passado por ele diversas vezes, mas não tinha encontrado a artista lá e estava excitada para conhecê-la. Seu trabalho se destacava na feira pela estranheza e beleza das imagens. Eram miniaturas de contos de fadas em caixas, dentro de objetos, imagens muito dark e inusitadas.



Finalmente vi uma menina sentada ao lado das esculturas. Uma moça novinha e aparentemente muito tímida estava lá sentada num canto olhando as pessoas que observavam suas obras. Me aproximei e elogiei seu trabalho e pedi que ela me falasse um pouco sobre ele. Ela ficou super feliz de me falar de onde vinha a inspiração para cada uma de suas obras. Basicamente ela brinca com lendas e histórias de fadas e as usa para criar as suas próprias. Relutou em me falar da inspiração por tras deles individualmente pois acha que cada um deve interpretar a sua maneira. "Arte é tipo isso mesmo, né?"eu disse. Ela abriu um sorriso e falou: "tá bom, vou te contar o que me inspirou nessa aqui" e depois fomos uma a uma cobrindo cada uma das obras. Uma delicia o papo e a moça uma fofinha.

Fechou minha tarde maravilhosamente.

E nada como voltar pra casa na luz do outono que, mesmo que não esteja oficialmente por aqui, já bate à porta.



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